A canção de ninar é uma forma poético-musical que nos chega por transmissão oral. Isso significa psiquicamente um acento na oralidade, no que implica a voz e a boca humanas e no que implica uma pulsão de vida (auto conservação) e um instinto protetor da espécie.
Em dezembro de 2014, Marcelo Ninio redigiu uma matéria, para a Folha de São Paulo, intitulada: “Canção de Ninar – Música infantil que alerta para o risco de tsunami ajudou a salvar habitantes de ilha indonésia da tragédia de 2004”.
É que, em 1907, Simeulue, uma das 19 mil ilhas do arquipélago da Indonésia, já havia sido atingida por um tsunami. A narrativa dos acontecimentos trágicos, bem como os alertas para o perigo iminente passaram a ser cantados por pais para adormecerem seus filhos.
A canção de ninar fala de uma onda gigante (“smong”, no idioma local) e ensina que quando o mar recua é preciso fugir para as montanhas porque haverá brevemente uma inundação. Esta canção foi transmitida de geração em geração e, ao primeiro sinal da onda gigante em 2004, a palavra cantada “smong”, ressoou na memória coletiva. De uma população de 80 mil habitantes, apenas 7 pessoas desta ilha morreram (lembramos que a tragédia de 2004 ceifou a vida de 230 mil pessoas, 70% delas da Indonésia).
Vidas humanas foram salvas por um saber cantado às crianças. Ou seja, a canção de ninar, em seu aspecto funcional, é uma ação profilática, especialmente por seu alcance coletivo. Neste caso, o provérbio, também elemento de tradição oral, foi confirmado: “Quem canta seus males espanta”.