Quando nasce um segundo filho, além da chegada do pequenino, também se inaugura o nascimento do filho mais velho, como irmão. Não apenas ele “ganhou um irmãozinho”, mas iniciou-se como irmão. Um processo feito de muitas descobertas. A começar pelo tamanho físico: muitas mães relatam que, ainda na maternidade, quando o filho mais velho chega para conhecer o irmãozinho, elas observam que o maior “cresceu da noite para o dia”…Ou foi a chegada de um novo neném que deu a referência do que é ser pequeno?! Não é à toa que encontramos, em muitas cidades do interior dos estados brasileiros, o apelido Neném, ou Ném, para o caçula da família, às vezes já com 30 anos!
Não é apenas aos olhos dos pais, porém, que os mais velhos cresceram. Eles próprios procuram “entender” o novo tamanho que têm. Buscam compreender o que é crescer; querem ver fotos de quando eram pequenos; comportam-se como bebês e, ao mesmo tempo, como chefes da casa; sentem-se amuados e pequenos e, em seguida, temem machucar o menor com sua força de gigante; fazem muxoxos de coitadinhos e, em um lance, transformam-se em heróis da casa. Transformação.
Teremos muitas oportunidades, ao longo destas postagens de abordar aspectos do nascimento do irmão maior. Aqui ressalto que isso exige um longo aprendizado e que, no caso dos primeiros filhos, especialmente quando têm entre dois e quatro anos, muitas vezes começa na referência materna e paterna. Imitar o que a mamãe faz e o que o papai faz é o começo do caminho de ser irmão: colocar almofada na barriga e ficar grávida(o); levantar a camiseta e dar de mamar; dizer que o filhinho é meu; protegê-lo de outras crianças que queiram pegá-lo; trocar fraldas; banhar; dar colo; acalantar…
Como pais de família, pais de um grupo de crianças, é muito importante nos perguntarmos o que pensamos sobre “ser irmão”, para podermos acompanhar este processo de construção de uma relação fraterna entre nossos filhos. Processo muito mais profundo do que a imitação dos comportamentos do adulto em relação ao neném, porque repleto de sentimentos intensos relacionados a acolher o outro, abrir espaço para o novo, preservar o que não pode se perder, sentir-se seguro em deixar o outro ser, descobrir a alegria de ser em companhia de alguém…
Certa feita, ao encerrar um atendimento pós-natal, Janete e Marcos, pais da Maria Fernanda (de 3 anos) e do Miguel (recém-nascido), mostraram-me este vídeo. Nele, além escutarmos o canto da menina, “recém-nascida” como irmã, e observarmos seus gestos cuidadosos para acalantar o irmãozinho, escutamos o pedido do adulto para que ela cante de novo. Ela nega, dizendo: “Não precisa”. Para Maria Fernanda havia sido suficiente. A alegria do adulto, que acompanhava uma cena de entrosamento fraterno inicial, é que queria o “bis”.
Silvia De Ambrosis Pinheiro Machado
É psicóloga; especialista no atendimento de grupos familiares recém-nascidos; psicoterapeuta de adultos e fundadora do Primeiro Movimento.